domingo, 28 de junho de 2009

O que é que a Pequena Notável tem?

Um metro e cinquenta e dois de altura. Altíssimas sandálias plataforma. Um jeito de revirar as mãos e os olhos. Turbantes. Jóias coloridas. Plumas, brilhos e muitos balangandãs. Assim ficou consagrada a figura da Pequena Notável.
Maria do Carmo Miranda da Cunha nasceu em 9 de fevereiro de 1909, na Freguesia da Várzea da Ovelha, no Distrito do Porto, em Portugal. Filha de José Maria Pinto da Cunha e de Maria Emília Miranda da Cunha, veio para o Brasil com ainda oito meses de vida, estabelecendo-se no Rio de Janeiro.
Estudou na Escola Santa Tereza, na Rua da Lapa. Na época o local passava a ser frequentado por artistas, malandros e prostitutas, o que, provavelmente, influenciou o comportamento da cantora. Carmen (que na Europa é apelido comum para mulheres de nome “Maria do Carmo”, o mesmo que “Maria del Camen”) começou a trabalhar cedo, aos quatorze anos, como balconista numa loja de gravatas.
Trabalhou também na loja de modas e confecções “La Femme Chic”, na Rua do Ouvidor. Lá aprendeu a confeccionar chapéus e, às vezes, vendia-os no balcão. Enquanto trabalhava, cantava, à meia-voz, músicas populares. Foi usando chapéu que Carmen Miranda apareceu pela primeira vez na imprensa. Isso aconteceu em 1926, quando ela tinha apenas dezesseis anos. Sua foto foi publicada na sessão de cinema da revista Selecta, como anônima “extra”. A fotografia foi extraída do filme brasileiro A Esposa do Solteiro, de 1925, no qual fez sua primeira participação.
Descoberta pelo baiano Josué de Barros, Carmen gravou três discos antes de obter o sucesso com a música Pra Você Gostar de Mim (Joubert de Carvalho), que mais tarde ficou conhecida como Taí. Lançado em 1930, esse disco vendeu cerca de trinta e cinco mil cópias em apenas um mês, batendo todos os recordes da época.
Na década de 30, Carmen Miranda atuou em diversos filmes brasileiros. Sua primeira participação já consagrada como artista famosa foi em 1932, no documentário O Carnaval Cantado no Rio, que mostra cenas reais do carnaval carioca. No ano seguinte, em A Voz do Carnaval, filme que intercala Carnaval de rua com gravações de estúdio, a cantora interpreta as músicas Moleque Indigesto (Lamartine Babo) e Good-Bye (Assis Valente) nos microfones da Rádio Mayrink Veiga.
Seu primeiro papel efetivo (lembrando que, até então, Carmen só havia feito participações) foi na comédia Estudantes, de 1935, em que interpretava Mimi, a “pequena do rádio”. No mesmo ano estrelou o Alô, Alô, Brasil, cantando a marchinha Primavera no Rio (João de Barro). Em 1936 é lançado o Alô, Alô, Carnaval, cujas interpretações do solo Querido Adão (Benedicto Lacerda/Oswaldo Santiago) e da marcha Cantores de Rádio (A. Ribeiro/Lamartine Babo/Josué de Barros), junto de sua irmã Aurora Miranda, merecem destaque.
Uma das músicas que mais são associadas à Carmen Miranda é o samba O que é que a Baiana Tem? (Dorival Caymmi), o qual foi eternizado no filme Banana da Terra, de 1938. Ao contrário do que se costuma dizer, o estilo espalhafatoso da Pequena Notável não foi definido aos moldes de Hollywood, pois nessa produção Carmen já se mostra da forma como ficou conhecida. O que É que a Baiana Tem? aparece também em seu filme seguinte, Laranja da China, de 1939, última produção cinematográfica nacional com a presença da cantora.
A convite do empresário estadunidense Lee Shubert, Carmen viaja no navio Uruguai rumo aos Estados Unidos no dia 4 de maio de 1939, às vésperas da Segunda Guerra Mundial. No dia 29 do mesmo mês, estreou no espetáculo Streets of Paris, em Boston, obtendo êxito de público e crítica. Suas apresentações nos teatros norte-americanos ficaram tão famosas que, em março de 1940, apresentou-se para o então presidente dos EUA Franklin Delano Roosevelt, na Casa Branca. Nesse ano gravou as marcas de suas mãos e sapatos na Calçada da Fama, em Los Angeles.
Sua temporada extremamente bem-sucedida rendeu a ela um apelido norte-americano: Brazilian Bombshell. Ainda em 1940, apresentou-se na Urca, Rio de Janeiro. Costuma-se dizer que lá ela foi vaiada, porém isso não aconteceu. A recepção foi apática, sim, isso porque o público era formado por homens do alto escalão do governo Vargas, ligados aos pensamentos nazi-fascistas. Não era de esperar, portanto, que ficassem animados com músicas como South American Way ou que dissessem “good night, people”. Além disso, há boatos de que ela estava resfriada. Dois meses depois Carmen voltou àquele palco com a resposta pronta: a canção Disseram que Eu Voltei Americanizada (Luiz Peixoto/ Vicente Paiva).
Embora a Neighbor Policy de Roosevelt ainda não fosse política de Estado, Carmen Miranda é comumente associada a ela. Dos grandes estúdios, apenas dois fizeram produções segundo o espírito de boa-vizinhança – a FOX e a RKO –, não houve na época uma imposição do governo.
Nos anos que se seguiram, Carmen atuou em treze filmes nos Estados Unidos, sendo que já havia participado de um, em 1940, no qual ela cantava quatro músicas. Nos dois primeiros, That Night in Rio e Week-End in Havana, ela não sabia muito mais que o “my name is” em inglês. Foram onze anos de filmagens quase seguidas e Carmen sempre tendo personagens de destaque, cantando em português, espanhol e inglês. Seu último filme foi o fracassado Scared Stiff. As atuações de Dean Martin e Carmen salvam a produção, mas as cenas da brasileira foram banidas a pedido de Jerry Lewis, que aparece patético na tentativa de imitá-la.
Em paralelo a isso tudo, a cantora apresentava-se nos mais importantes programas de televisão, de rádio, casas noturnas, cassinos e teatros norte-americanos. A rotina árdua de trabalho fez com que a cantora mergulhasse ainda mais no uso de heroína, álcool, estimulantes e barbitúricos, especialmente após casar-se com estadunidense David Sebastian, também alcoólatra e que a fazia trabalhar além da conta para enriquecer.
Em 1948, Carmen Miranda estreou uma temporada no Teatro Palladium, em Londres. Sua contratação era, a princípio, para quatro semanas, mas acabou ficando seis. Em agosto desse ano, perdeu o filho que esperava. Ela era a artista de show mais bem paga dos Estados Unidos e começou sua excursão por vários países da Europa.
Depois de quatorze anos afastada, em 1954 Carmen voltou ao Brasil em breve escala em São Paulo, onde foi muito homenageada. Seu esgotamento nervoso era evidente, mesmo assim, continuou trabalhando. Até que, em 5 de agosto de 1955, aos 46 anos, morreu em sua casa de Beverly Hills, vítima de um colapso cardíaco. O sepultamento de seu corpo cremado reuniu meio milhão de pessoas no Rio de Janeiro. Carmen Miranda, em sua breve e intensa vida, tornou-se um ícone do Brasil, mesmo não tendo nascido aqui.

Algumas outras publicações

"Questão do diploma gera protesto", por Bruno Podolski, Juliana Koch e Paulo Pacheco, do 1º ano de Jornalismo.

"O Dez na área e a Secretaria de Educação: de quem é o equívoco?", por Juliana Koch e Paulo Pacheco, 1º ano de Jornalismo. [deram uma bela cortada no nosso texto, a íntegra no blog "Letras Escapadas", do Pacheco]

"Samba Nosso", por Juliana Koch e Juliana Periscinotto, do 1º ano de Jornalismo.

Apresentando

Eu acredito na "arte de sujar os sapatos". Vejo o mundo em pautas e desejo dar visibilidade a tudo. Tenho prazer em apurar. Daí surgiu a ideia do "Sapato Sujo", espaço que dedicarei às minhas aspirações jornalísticas. E não é porque é um blog que não será sério, nele aplicarei a ética e as técnicas que aprendo.

Eis um dos primeiros passos de alguém que deseja ser, num futuro próximo, uma grande jornalista.