segunda-feira, 19 de abril de 2010

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Um abraço, vô

Aula de História. Tema: memória. O professor pergunta aos alunos sobre lembranças geradas a partir de um cheiro, um som, um sabor... Muitos relatos sinceros da sala e, de repente, toda essa situação me trouxe uma recordação confusa que fez meus olhos marearem.
Existe um cheiro que não sei descrever, talvez um misto de terra e madeira molhada, uma criação de galinha, um clima frio. Pra mim, cheiro de Santa Catarina. Mas não qualquer lugar. Sempre que sinto esse cheiro sou arremeçada à uma casa simples, em Joinville, cidade catarinense. A lembrança é embaçada. O terreno é grande, tem duas casas modestas. Jabutis, cachorros, um carro velho na garagem, muitos pássaros. É a casa onde moravam meus avós maternos.
Alto, magro, olhos azuis, cabelos brancos e pele bem clarinha já um tanto enrugada. Um sorriso sereno e um abraço forte daqueles que chegam a doer, mas você não reclama e não quer largar. É Hebert Helmut Paul Koch, meu avô. São três as cenas que visitam minha mente agora. Ele fazendo uns biscoitos em forma de bonequinhos pra eu trazer na viagem de volta para São Paulo. Lembro de observá-lo enquanto ele acrescentava o igrediente principal daquela receita: muito carinho. Lembro de um abraço também, mas não é um específico. Tenho dúvidas sobre se não é uma imagem que criei agora devido à imensa vontade de abraçá-lo mais uma vez. A outra cena é do dia 16 de janeiro de 2002, dia do falecimento dele. Depois que o padre o aspergiu com água benta, uma gota instalou-se em seu rosto, abaixo dos olhos. Parecia-se muito com a lágrima que acabou de cair e eu não consegui segurar, mesmo estando em público.
Quando meu avô se foi eu tinha 12 anos. Chorei, recordo, mas mais pelo sofrimento da minha mãe. Eu amava meu avô e me senti mal por não derramar uma lágrima por sua morte, embora eu estivesse sofrendo muito.
Hoje, quase 8 anos depois, essas lágrimas rolaram. Lágrimas que caíram como bálsamo nessas feridas emocionais que eu nem sabia, mas ainda estavam aqui. Não há muito mais o que escrever nem lembrar. Não há mais o que fazer, eu só queria mesmo é abraçá-lo mais uma vez.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Coletânea #tuítesuainfância

No dia 12 de outubro desse ano, acordei atrasada pra missa e com vontade de mofar em casa. Desmarquei compromissos, tirei a roupa de sair e vesti o pijama novamente. Uma delícia pra um panda como eu.

Acontece que fui tomada pela febre #tuítesuainfância, nenhum outro "movimento" no Twitter havia prendido tanto a minha atenção. Vivi uma nostalgia muito bacana e esse post só existe porque eu não quero perder esses tweets no tempo.



  • 1º eu era gordinha e muito tímida, dps dançava é o tcham, cresci um pouco e comecei a ouvir beatles, legião e chico. só.

  • Meu livro preferido na infância era "História de Dois Amores", do Drummond, com ilustrações do Ziraldo. Li inúmeras vezes

  • Sonhei que tava fazendo xixi e fiz xixi na cama. Não me envergonho, já aconteceu com tds!

  • Sou da época que MC Lanche Feliz ñ custava $13 e a surpresa do kinder ovo eram aqueles leõezinhos em miniatura

  • A @Sandy_Leah era virgem e eu era apaixonada pelo @junior_lima. O tempo passa

  • Minha mãe não usou métodos muito ortodoxos pra eu parar de tomar mamadeira. Até hoje só tomo leite com toddy, puro jamais

  • Eu queria ser jornalista, viajar o mundo inteiro e escrever um livro. É, eu ainda quero td isso.

  • Acreditei em Papai Noel até os 6 anos, mas a cegonha nunca me desceu. Nasci sabendo

  • Nossa! Quem lembra do chupa-cabra?!

  • Minha prima me roubava no Banco Imobiliário e no War, resultado: fiquei assim meio bolchevique

  • Eu era uma criança prodígio, sem ser chata. juro. Era uma peste no colégio, mas uma das melhores alunas e ouvia mpb

  • Caí do berço, o que explica muita coisa. Até hoje tenho um puta buraco na testa, mostro pra quem quiser

  • Tirei 18 numa redação que valia 10 e acabei com 10 msm, pq a prof ª tirava ponto de quem conversava

  • Adaptava o roteiro e protagonizava todas as peças do colégio. Me achava grande atriz, caí em mim.

  • Alguém lembra de "Os Karas", aquela série do Pedro Bandeira? Meu preferido era "A Droga da Obediência"

  • Aos 11 anos li "A Marca de uma Lágrima", o livro mais brega da minha vida

  • Eba! Parece que todo mundo lia Os Karas :D

  • Quando eu era pequena, existia Big Brother Brasil. Péra, ainda existe essa merda!

  • Quando eu era criança, Plutão era planeta. Tenho dito.

  • Cara, eu tinha um bichinho virtual!

  • RT @roupasuja: quando eu era criança, merthiolate era vermelho e ardia. e eu ganhava um pouco no joelho a cada 3 dias

  • Passava as férias com o almanacão da Turma da Mônica. Vida de filho único

  • Pra mim, "pau que nasce torto" era galho de árvore

  • Quando eu tinha 8 anos, queria ter 10. Aos 10, queria ter 12. Aos 12, 14. Aos 14, 16. Aos 16, 18. E, aos 18, 8.

  • Eu comprava a revista Recreio e tenho aquele fichário com um menino na capa, ele era meu namorado imaginário

  • Respondi a zilhares de cadernos de pergunta. "Qm vc levaria pr'uma ilha deserta?", "com qtos anos vai casar?". Lembram?

  • Eu tinha uma vida imaginária. Ainda tenho.

  • Eu tinha a boneca patinadora, meus pais pagaram uma fortuna nela na época

  • Além de Plutão ser planeta, na minha época Dercy era viva e as Torres Gêmeas existiam.

  • Quando eu era criança, tinha medo da virada do milênio

  • tira a calça jeans, põe o fio dental. Morena, você é tão sensual...♫ era um hit isso

  • Fiz picolé de danoninho e plantei feijão no algodão

  • Eu tirei foto vestida de vaca da Parmalat

  • RT @PAULOPACHECO1: Aos 11, era pré-adolescente. Mesmo não sendo. E ai de quem discordasse! xD

  • Meus apelidos de infância sempre foram ligados ao meu sobrenome. Eu odiava aquele comercial do coqueiro...

  • Quando eu era criança, passava horas brincando de LEGO. Ai, essa foi uma das maiores nostalgias de hoje

  • RT @tylerbazz: "comer", "chupeta" e "dar leitinho na boca" significavam apenas "comer", "chupeta" e "dar leitinho na boca"

  • Ah! Como eu odiava ler isso... RT @teo1up Sorry Mario, but our princess is in another castle!

  • Quando eu fui pra 5ª série, ela ainda se chamava ginásio e eu me sentia muito maior que os da 4ª

  • Eu odiava arrancar dente e tinha pavor de quando minha mãe tirava meus piolhos

  • Eu era confiante, podia tudo, não tinha medo de nada e não tinha dúvidas. Regredi.

  • Antes eu dormia tarde e acordava cedo por opção, pra aproveitar o dia. Hoje eu TENHO que fazer isso

  • Eu era competitiva e sempre acabava as competições brigada com todo mundo. Mas logo ficava td bem

  • Belém-belém, nunca mais eu tô de bem. Abre a boca e sai um trem

  • Eu era tresloucada pela @sandy_leah e não pela @mroficial

  • Todo recreio era meu reino pelos pirulitos e balas alheios. Época em que eu achava que $1 era dinheiro

  • "O que vem de baixo não me atinge"

  • Quando eu era pequena, não comemorava o #diadascrianças no Twitter, eu brincava!

  • Quando você chegar, tire essa roupa molhada, quero ser a toalha e o seu cobertor...♫ outro hit

  • Pega-pega, trepa-trepa... algumas brincadeiras podem ficar mais interessantes quando você cresce. haha

  • Quando me perguntam se eu tenho merda na cabeça, lembro de um episódio meio sujo das épocas de penico...

  • Bananas de Pijamas descendo as escadas. Bananas de Pijamas, uma dupla bem levada...♫

  • Acho que hoje @juperiscinotto e eu somos meio que J1 e J2. "Sabe o que estou pensando J1?" / "Acho que sim, J2"

  • Eu vou contar pra tia que o macaco deu bom dia... (sempre com ar grave e as mãos balançando)

Um dia improdutivo, mas quem liga?!

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

1, 2, 3, ZAP!


Poesia, música e cinema: assim foi a noite de 8 de outubro de 2009 para cerca de 30 pessoas. O ZAP (Zona Autônoma da Palavra) acontece toda 2ª quinta-feira do mês no Núcleo Bartolomeu, no bairro Pompéia, zona Oeste de São Paulo. O local é freqüentado por músicos, poetas, estudantes, designers e até agentes financeiros. São jovens e adultos apaixonados pela arte.

O lugar é alternativo, com decoração harmoniosa. Entrada pequena, grafites nas paredes internas, poltronas vermelhas, banheiros sem fechadura e a pia é de balde de alumínio. Uma espécie de salão transforma-se em um bar, com mesas e cadeiras de lata. Há uma pik up de DJ e uma banca onde se vende tortas, bolos, pipoca, refrigerante, vinho e cerveja. Na frente uma parede branca, em que o filme é projetado.

O ZAP surgiu em dezembro de 2008, idealizado e organizado por Roberta Estrela D’Alva, a partir de pesquisas sobre saraus, “slam” e “spoken word”. Na edição de outubro, foi exibido o documentário “Freestyle, um estilo de vida”, de Pedro Gomes, que fala sobre a vida e a música de MCs. Após o filme, a DJ Lua Gabanini embalou a noite no ritmo do Hip Hop.

Por volta das 20h30 começou o “Microfone Aberto”, essa é a hora em que qualquer um pode ir até o microfone e recitar, interpretar ou cantar poesia, de sua autoria ou não. Após ser anunciado, o poeta vai até o microfone e é feita a contagem: “1, 2, 3, zap!”, acompanhada com entusiasmo por todos os presentes. Poesia, rap, samba, amores impossíveis, injustiças sociais, caos paulistano: a diversidade de pessoas, temáticas e estilos é marcante. Após cada apresentação, aplausos, mais ou menos empolgados, dependendo da qualidade da atuação.

Gabriel Gonzo, de 30 anos, foi um dos que se apresentou, com uma letra bem elaborada sobre as marginais. Era a primeira vez que ele participava. Bebia cerveja acompanhado de dois amigos, integrantes de sua banda, Maraca Manca. Os três músicos consideram importante a iniciativa de levar a cultura da periferia para um espaço em que ela é valorizada.

Agente financeiro de 42 anos, Ivan – ou MC Brejeiro, como se autodenominou – bebia vinho com mais duas pessoas. Era a segunda vez que participava do ZAP e cantou seu longo rap “Testemunho verás”, conquistando a simpatia da plateia. Após uma hora de apresentações, uma pausa com mais música antes do “Zapslam”.

O “Slam” é uma batalha de poetas. No ZAP, são sorteados cinco jurados em meio ao público, os quais são incumbidos de atribuir notas de zero a dez aos competidores. Os quesitos são: forma, conteúdo e performance. A competição é dividida em três rodadas e o prêmio são livros, revistas, CDs e DVDs. O “zapeão” de outubro foi Emerson, que conseguiu empolgar e emocionar a plateia com sua interpretação.

Núcleo Bartolomeu

Endereço: Rua Dr. Augusto de Miranda, 786, Pompéia, São Paulo, SP

Tel.: 3803-9396

ZAP
2ª quinta-feira do mês
Das 19 h às 23h30
Entrada Franca

Links:
http://www.nucleobartolomeu.com.br/
twitter.com/zapslam
www.zapslam.blogspot.com/

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

O dia em que o Twitter parou


Deu a louca no Twitter hoje, então tive que ressussitar blog, MSN, Orkut e até o telefone. Estranho. Daí percebi que já não sei mais brincar de internet sem ele. É como quando acaba a energia elétrica e você não sabe o que fazer. Aliás, o que eu fazia na rede há um ano? De repente percebi que eu me viciei muito rápido nisso, assim como meus amigos. Mudaram-se alguns hábitos. Discutimos música, marcamos os barzinhos, divulgamos coisas bacanas (ou não), conhecemos gente e falamos da vida. Já fazíamos tudo isso, mas agora lá é um ponto certo de encontro com a galera e com a notícia.

Sairei em instantes para fazer uma reportagem. Desejem-me sorte.

p.s.: ninguém lerá este post porque, afinal, eu não posso divulgá-lo no Twitter. Não é engraçado isso? É, não, eu sei. É o post mais idiota da minha vida, mas tô feliz com ele.
p.s.2: sigam-me quando essa baleia parar de reinar sobre o passarinho.

Ensaio sobre outra cegueira

Conflito entre Israel e Palestina. Monalisa, de Da Vinci. Urso panda. Auschwitz. Quantas são as coisas nas quais acreditamos sem precisar ver de perto? Tudo isso nós conhecemos através dos meios de comunicação e não questionamos sua existência, parece-nos fato.
A partir daí é possível perceber a influência que a mídia exerce na formação de opinião dos indivíduos e dos grupos. Não é preciso que um indiano venha ao Brasil para saber como é o Corcovado, basta que ele veja um cartão-postal ou um filme rodado no Rio de Janeiro. Se, no entanto, por ideologia ou má fé, o autor da imagem acrescentar ao Cristo Redentor uma corda no pescoço, lembrando Tiradentes, o consumidor da imagem, provavelmente, acreditará nela.
Para o público, os diversos meios de comunicação funcionam como uma validação dos fatos. É esta crença que torna a mídia poderosa. O repórter adquire a função de ser um porta-voz dos eventos e lugares que cobre. Fica esquecido, muitas vezes, que ele carrega suas referências pessoais e o viés ideológico do veículo para o qual trabalha em sua análise e descrição.
Mino Carta costuma dizer que o jornalista tem compromisso com a verdade factual. Não é preciso, porém, que um texto contenha mentiras para pôr em rsico a objetividade. As escolhas de foto, espaço e edição do texto são formas de manipular a opinião do leitor. Numa época em que impera a instantaneidade, o cidadão comum depénde, cada vez mais, de um meio que o conecte aos acontecimentos, potencializando o poder de manipulação do produto jornalístico.
O rápido desenvolvimento das telecomunicações é um dos fatores que contribui para a sensação de "falta de tempo" observada na sociedade contemporânea. Inclusive estes avanços alteram a forma de apuração por parte do repórter. Na tentativa de publicar uma notícia antes dos concorrentes, muitas entrevistas são realizadas por e-mail ou telefone, o que, para Eliane Brum, anula o contato essencial entre fonte e entrevistador: o olhar. Assim como no caso contado por Walter Salles na Folha Ilustrada, em 2003, às vezes é necessário se deslocar até a cidade-natal de um escritor para compreender melhor a sua obra.
Com o ritmo acelerado do cotidiano, a mídia é uma alternativa para se manter bem informado. Cabe ao público analisar criticamente os materiais informativos que consome, considerando os autores e os veículos em que são publicados. Do profissional de comunicação espera-se mais: que ele faça o papel de investigador direto e que leve para o seu produto final o cheiro dos lugares, a feição das personagens e o máximo de veracidade que for possível. Ao jornalista cabe a função de ser os "olhos" do público onde este não pode estar.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Ver a vida


Texto feito em dez minutos, durante a aula de português e que pretende ser algo como um diário de leitura.

Eliane Brum educou meu olhar, me fez olhar pra vida que ninguém vê. A vida de pessoas que passam diariamente diante de nossos olhos e sequer notamos ou, se notamos e não é uma realidade confortável, fingimos não ver.

O insulfilm do carro nos protege dos olhares externos, do olhar da criança que pede dinheiro nos faróis da cidade. Com o tempo, embrutecemos e até parece que criamos essa película enegrecida nos olhos para nos proteger daquilo que não comvém ver.

Presos na redação, os jornalistas não podem ver o mundo, é na rua que o mundo acontece. Para fazer uma boa reportagem é preciso ver. Ver indivíduos em meio a uma multidão, ver o que acontece ao redor, ver mais do que é dito em palavras, interpretar os silêncios, observar reações e expressões.

Ao ler A Vida que Ninguém Vê eu ria e chorava no ônibus, como uma imbecial. Mas protegida pela sensação de não ser percebida, pois também a minha é uma vida que ninguém vê.

sábado, 11 de julho de 2009

Toca aí!

Duas dicas para enriquecer sua pasta "Minhas Músicas" e tornar a vida mais gostosa

A primeiríssima dica é o delicioso Pelo Sabor do Gesto, novo trabalho de Zélia Duncan. Com a produção dividida entre John Ulhoa e Beto Vilares, esse é, sem dúvidas, o melhor álbum da cantora.
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Depois de seis anos sem lançar álbuns com músicas inéditas, Lenine retornou em 2008
lançando o Labiata, minha segunda dica. A genialidade do músico está presente não apenas nas letras, mas também nos arranjos ousados em todas as 11 faixas do cd.
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Baixem, ouçam e depois me digam o que acharam.
Aguardem novas sugestões!

sábado, 4 de julho de 2009

Mart'nália e Juliana Koch cantam "Angola"

Noite de 2 de julho de 2009, quinta-feira. Sesc Pompeia, zona oeste de São Paulo.

Depois de pular, cantar e (tentar) sambar muito no maravilhoso show da Mart'nália, fomos - Bru, Dane, Dê, Flá, Ju P., João, Ké e eu - para a fila do camarim. Estávamos todos maravilhados.

A espera não foi longa, logo chegou nossa vez de falar com a cantora. Uma galera que estava lá entrou atropelando, o que impediu o casal Ju e João de entrarem com o resto da turma. Fiquei bastante brava.

Durante o show havia pedido à Dê que gritasse "Angola", uma das minhas músicas favoritas, porque eu já estava levemente sem voz. Simpática, Mart'nália respondeu que não podia cantá-la, e sugeriu que eu voltasse na sexta-feira.

Quando chegamos ao camarim eu disse à Mart'nália que tinha adorado o show, coisa e tal. Daí comentei: "nada de cantar 'Angola' amanhã", explicando que eu ficaria muito frustrada já que não havia mais ingressos pro dia seguinte. E soltei, meio que de brincadeira, um "canta agora...".

Ela então começou: "De onde vem meu povo/ terra do homem novo/ minha nação Banto Zumbi". Continuei: "Cheiro de jinsaba, nos sons do meu perfume". E seguimos em dueto até o fim da música, com direito a passinhos e gestos.

Ao final, aplausos dos amigos e uns outros do camarim. Meu rosto vermelho, sorriso enorme, do tamanho da satisfação. Enfim, vai ficar guardado na minha memória. Foi um momento incrível.

Abaixo segue uma sequência de fotos, pra ninguém dizer que estou mentindo.



O texto sobre o show será publicado em breve.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Luizinho muito além das 7 cordas

Um perfil do maior violonista de 7 cordas do País.

Um sobrado pequeno no bairro Vila Mariana, em São Paulo. Muita gente rindo e falando alto, alguns não são da família. Partituras espalhadas sobre a mesa. Violões no canto. Uma típica casa de artista boêmio. O dono dessa casa é Luiz Araújo Amorim, o Luizinho 7 Cordas.

Não mais alto que 1,70. Calça, camiseta e blusa largas, roupa de ficar em casa mesmo. Tampando a cabeça quase careca, mas esbranquiçada, um boné vermelho parecido com aqueles que se ganham em tempos de eleição. Sem muita timidez, apresenta todos os presentes, não esquecendo papagaio, cachorros ou filhos. Senta-se à mesa e começa a contar a vida com jeito de quem a canta.

Nasceu em 31 de outubro de 1946, Dia das Bruxas, mas Luizinho é brasileiro demais e não cita, não faz brincadeira disso. Ainda aos oito meses de idade mudou-se de sua cidade-natal, Marília, para Santos. Sua infância foi feliz, de moleque do morro que jogava bola. Diferente dos outros garotos tinha só um gosto estranho, de ficar até bem tarde num canto quando o pai levava os amigos pra casa, pra ensaiar.

Seu Bráulio era tocador de cavaquinho e violão num grupo regional bastante conhecido de Santos, o Estrela de Ouro. O menino Luiz passava horas a observar o pai feirante junto daqueles trabalhadores que se reuniam por diversão para tocar sambas e choros. E o gosto dele era tão grande que, aos seis anos, as mãos pequenas já faziam tentativas nas quatro cordas do cavaquinho, o único instrumento que conseguia carregar sendo tão novo.

Aconselhado pelos amigos de grupo, seu Bráulio não deixou mais Luizinho tocar no meio dos rapazes, disse a ele que deveria estudar. Assim o garoto ingressou no conservatório musical. Passou do cavaquinho ao violão. Estudou música erudita, mas nunca deixou de tocar as canções populares com as quais cresceu. Foi ouvindo Maurici Moura no rádio que descobriu o violão de 7 cordas.

Aluno de Dino 7 Cordas, o grande mestre do instrumento no Brasil, Luizinho já sentia-se bem para tocar com o Estrela de Ouro novamente. Não só tocava como corrigia, guiava os rapazes. Surpreendeu-os então com seu Di Giorgio adaptado, era apenas uma corda a mais no violão, mas transformou a música do garoto, mudou os rumos da sua vida. O convívio com os artistas pode ter sido musicalmente benéfico, mas a saúde do já adolescente Luiz não andava bem.

Aos doze anos, com a mesma mão que dedilhava o violão virava garrafas de cachaça. O menino começou a beber por acreditar no que diziam os adultos, que fulano tocava bem porque bebia bastante. Foi inchando, a pele começou a brilhar e, então, o pai percebeu. Levou Luizinho ao médico, que brigou, disse pra ele escolher entre beber e ficar vivo. Ficou com a segunda opção.

Tido como seu sucessor pelo próprio Dino 7 Cordas, Luizinho recebeu por herança o apelido, além do reconhecimento como melhor violonista de 7 cordas do País. Acompanhou artistas consagrados como Alcione, Elizeth Cardoso, Clara Nunes, Demônios da Garoa e Martinho da Vila. Viajou muito, mas só deixou de morar na cidade de Santos em 1997, por causa do apego à mãe.

Apego, aliás, é uma das características mais fortes de Luizinho 7 Cordas. O visível apego ao morro, lugar de efervescência cultural. Apego ao pai, que mesmo aos 63 anos chama de “papai”. Apego ao choro e ao samba de sua época, que o faz criticar Maria Rita e outras “bonitinhas que não são do samba”. Apego à cantora Fabiana Cozza, a qual trata como filha. Apego ao Dino e ao Rafael Rabello, cuja lembrança da morte traz lágrimas aos olhos do chorão. Embarga a voz que não foi feita pra cantar.

O entra e sai na casa de Luizinho 7 Cordas diz muito sobre ele. A porta não fica fechada. Todos que entram são acolhidos calorosamente. Os que saem não dizem “adeus” e sim “até logo”. Quem vê a casa, nota música em cada parede, cada canto. Não é preciso credencial para ouvi-lo, ele simplesmente quer falar, quer tocar. E toca com um prazer, com um olhar tão aconchegante que, diante dele, é possível sentir-se em casa.