sexta-feira, 3 de julho de 2009

Luizinho muito além das 7 cordas

Um perfil do maior violonista de 7 cordas do País.

Um sobrado pequeno no bairro Vila Mariana, em São Paulo. Muita gente rindo e falando alto, alguns não são da família. Partituras espalhadas sobre a mesa. Violões no canto. Uma típica casa de artista boêmio. O dono dessa casa é Luiz Araújo Amorim, o Luizinho 7 Cordas.

Não mais alto que 1,70. Calça, camiseta e blusa largas, roupa de ficar em casa mesmo. Tampando a cabeça quase careca, mas esbranquiçada, um boné vermelho parecido com aqueles que se ganham em tempos de eleição. Sem muita timidez, apresenta todos os presentes, não esquecendo papagaio, cachorros ou filhos. Senta-se à mesa e começa a contar a vida com jeito de quem a canta.

Nasceu em 31 de outubro de 1946, Dia das Bruxas, mas Luizinho é brasileiro demais e não cita, não faz brincadeira disso. Ainda aos oito meses de idade mudou-se de sua cidade-natal, Marília, para Santos. Sua infância foi feliz, de moleque do morro que jogava bola. Diferente dos outros garotos tinha só um gosto estranho, de ficar até bem tarde num canto quando o pai levava os amigos pra casa, pra ensaiar.

Seu Bráulio era tocador de cavaquinho e violão num grupo regional bastante conhecido de Santos, o Estrela de Ouro. O menino Luiz passava horas a observar o pai feirante junto daqueles trabalhadores que se reuniam por diversão para tocar sambas e choros. E o gosto dele era tão grande que, aos seis anos, as mãos pequenas já faziam tentativas nas quatro cordas do cavaquinho, o único instrumento que conseguia carregar sendo tão novo.

Aconselhado pelos amigos de grupo, seu Bráulio não deixou mais Luizinho tocar no meio dos rapazes, disse a ele que deveria estudar. Assim o garoto ingressou no conservatório musical. Passou do cavaquinho ao violão. Estudou música erudita, mas nunca deixou de tocar as canções populares com as quais cresceu. Foi ouvindo Maurici Moura no rádio que descobriu o violão de 7 cordas.

Aluno de Dino 7 Cordas, o grande mestre do instrumento no Brasil, Luizinho já sentia-se bem para tocar com o Estrela de Ouro novamente. Não só tocava como corrigia, guiava os rapazes. Surpreendeu-os então com seu Di Giorgio adaptado, era apenas uma corda a mais no violão, mas transformou a música do garoto, mudou os rumos da sua vida. O convívio com os artistas pode ter sido musicalmente benéfico, mas a saúde do já adolescente Luiz não andava bem.

Aos doze anos, com a mesma mão que dedilhava o violão virava garrafas de cachaça. O menino começou a beber por acreditar no que diziam os adultos, que fulano tocava bem porque bebia bastante. Foi inchando, a pele começou a brilhar e, então, o pai percebeu. Levou Luizinho ao médico, que brigou, disse pra ele escolher entre beber e ficar vivo. Ficou com a segunda opção.

Tido como seu sucessor pelo próprio Dino 7 Cordas, Luizinho recebeu por herança o apelido, além do reconhecimento como melhor violonista de 7 cordas do País. Acompanhou artistas consagrados como Alcione, Elizeth Cardoso, Clara Nunes, Demônios da Garoa e Martinho da Vila. Viajou muito, mas só deixou de morar na cidade de Santos em 1997, por causa do apego à mãe.

Apego, aliás, é uma das características mais fortes de Luizinho 7 Cordas. O visível apego ao morro, lugar de efervescência cultural. Apego ao pai, que mesmo aos 63 anos chama de “papai”. Apego ao choro e ao samba de sua época, que o faz criticar Maria Rita e outras “bonitinhas que não são do samba”. Apego à cantora Fabiana Cozza, a qual trata como filha. Apego ao Dino e ao Rafael Rabello, cuja lembrança da morte traz lágrimas aos olhos do chorão. Embarga a voz que não foi feita pra cantar.

O entra e sai na casa de Luizinho 7 Cordas diz muito sobre ele. A porta não fica fechada. Todos que entram são acolhidos calorosamente. Os que saem não dizem “adeus” e sim “até logo”. Quem vê a casa, nota música em cada parede, cada canto. Não é preciso credencial para ouvi-lo, ele simplesmente quer falar, quer tocar. E toca com um prazer, com um olhar tão aconchegante que, diante dele, é possível sentir-se em casa.

Um comentário:

  1. Eu não disse que valia a pena ler o perfil? hahaha
    Mais um texto daqueeeeles, Ju!
    Parabéns sempre!

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