quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Ensaio sobre outra cegueira

Conflito entre Israel e Palestina. Monalisa, de Da Vinci. Urso panda. Auschwitz. Quantas são as coisas nas quais acreditamos sem precisar ver de perto? Tudo isso nós conhecemos através dos meios de comunicação e não questionamos sua existência, parece-nos fato.
A partir daí é possível perceber a influência que a mídia exerce na formação de opinião dos indivíduos e dos grupos. Não é preciso que um indiano venha ao Brasil para saber como é o Corcovado, basta que ele veja um cartão-postal ou um filme rodado no Rio de Janeiro. Se, no entanto, por ideologia ou má fé, o autor da imagem acrescentar ao Cristo Redentor uma corda no pescoço, lembrando Tiradentes, o consumidor da imagem, provavelmente, acreditará nela.
Para o público, os diversos meios de comunicação funcionam como uma validação dos fatos. É esta crença que torna a mídia poderosa. O repórter adquire a função de ser um porta-voz dos eventos e lugares que cobre. Fica esquecido, muitas vezes, que ele carrega suas referências pessoais e o viés ideológico do veículo para o qual trabalha em sua análise e descrição.
Mino Carta costuma dizer que o jornalista tem compromisso com a verdade factual. Não é preciso, porém, que um texto contenha mentiras para pôr em rsico a objetividade. As escolhas de foto, espaço e edição do texto são formas de manipular a opinião do leitor. Numa época em que impera a instantaneidade, o cidadão comum depénde, cada vez mais, de um meio que o conecte aos acontecimentos, potencializando o poder de manipulação do produto jornalístico.
O rápido desenvolvimento das telecomunicações é um dos fatores que contribui para a sensação de "falta de tempo" observada na sociedade contemporânea. Inclusive estes avanços alteram a forma de apuração por parte do repórter. Na tentativa de publicar uma notícia antes dos concorrentes, muitas entrevistas são realizadas por e-mail ou telefone, o que, para Eliane Brum, anula o contato essencial entre fonte e entrevistador: o olhar. Assim como no caso contado por Walter Salles na Folha Ilustrada, em 2003, às vezes é necessário se deslocar até a cidade-natal de um escritor para compreender melhor a sua obra.
Com o ritmo acelerado do cotidiano, a mídia é uma alternativa para se manter bem informado. Cabe ao público analisar criticamente os materiais informativos que consome, considerando os autores e os veículos em que são publicados. Do profissional de comunicação espera-se mais: que ele faça o papel de investigador direto e que leve para o seu produto final o cheiro dos lugares, a feição das personagens e o máximo de veracidade que for possível. Ao jornalista cabe a função de ser os "olhos" do público onde este não pode estar.

2 comentários:

  1. Eu fico toda orgulhosa de ver que está se formando não mais uma jornalista com diploma, e sim uma profissional de Jornalismo! Parabéns, Koch!!!

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  2. Parabéns pelo Texto! Amo o Blog, e a dona do sapato sujo...
    Depois que te conheci também passei acreditar na arte de sujar os sapatos, mas ainda bem que tem "olhos" onde eu não posso estar!

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