sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Um abraço, vô

Aula de História. Tema: memória. O professor pergunta aos alunos sobre lembranças geradas a partir de um cheiro, um som, um sabor... Muitos relatos sinceros da sala e, de repente, toda essa situação me trouxe uma recordação confusa que fez meus olhos marearem.
Existe um cheiro que não sei descrever, talvez um misto de terra e madeira molhada, uma criação de galinha, um clima frio. Pra mim, cheiro de Santa Catarina. Mas não qualquer lugar. Sempre que sinto esse cheiro sou arremeçada à uma casa simples, em Joinville, cidade catarinense. A lembrança é embaçada. O terreno é grande, tem duas casas modestas. Jabutis, cachorros, um carro velho na garagem, muitos pássaros. É a casa onde moravam meus avós maternos.
Alto, magro, olhos azuis, cabelos brancos e pele bem clarinha já um tanto enrugada. Um sorriso sereno e um abraço forte daqueles que chegam a doer, mas você não reclama e não quer largar. É Hebert Helmut Paul Koch, meu avô. São três as cenas que visitam minha mente agora. Ele fazendo uns biscoitos em forma de bonequinhos pra eu trazer na viagem de volta para São Paulo. Lembro de observá-lo enquanto ele acrescentava o igrediente principal daquela receita: muito carinho. Lembro de um abraço também, mas não é um específico. Tenho dúvidas sobre se não é uma imagem que criei agora devido à imensa vontade de abraçá-lo mais uma vez. A outra cena é do dia 16 de janeiro de 2002, dia do falecimento dele. Depois que o padre o aspergiu com água benta, uma gota instalou-se em seu rosto, abaixo dos olhos. Parecia-se muito com a lágrima que acabou de cair e eu não consegui segurar, mesmo estando em público.
Quando meu avô se foi eu tinha 12 anos. Chorei, recordo, mas mais pelo sofrimento da minha mãe. Eu amava meu avô e me senti mal por não derramar uma lágrima por sua morte, embora eu estivesse sofrendo muito.
Hoje, quase 8 anos depois, essas lágrimas rolaram. Lágrimas que caíram como bálsamo nessas feridas emocionais que eu nem sabia, mas ainda estavam aqui. Não há muito mais o que escrever nem lembrar. Não há mais o que fazer, eu só queria mesmo é abraçá-lo mais uma vez.

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